terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Diários pessoais - a prova

Dia 27 - a prova de que consigo vencer com diplomacia e serenidade.

Indo pra guerra.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O Frisson da borracha verde

Lembrei de uma história quando acordei. 

Eu estava no pré de 6 - na minha época era assim que se falava - e pertencia a um grupinho de umas seis meninas mais ou menos. Não me recordo de todas, mas certamente nunca me esqueceria da Annie.

Havia comprado uma borracha muito boa; verde, grande e com as duas pontas em diagonal. De repente ela sumiu. Sem mais, nem menos. Eu levantei da minha cadeira micro verde e fui até a cadeira super alta falar com a Tia Irani. " Tia Irani, não encontro minha borracha, como pode? Eu acabei de usar ela, ela estava na minha mesa agorinha". E a Tia Helena mobilizou a sala para ver se achavam a tal da borracha caída em algum canto da sala. Nada.

Diante do nada eu olhei pra Annie e fui direto na mochilinha rosa de bichinho dela. Era linda, perfeita, acho que era o leitão do pequeno Pooh. Não foi preciso procurar muito pra achar a borracha. Lá estava ela. A Annie tinha gostado tanto que pegou pra ela. Mas eu gostava mais ainda, estão peguei de volta.

Então foi assim, que pela primeira vez, eu me recordo de ter seguido a minha intuição. 





sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Diários Pessoais - primeira mudança nos planos

23 de Dezembro


Ontem estava muito angustiada quando fui finalizar a compra do Interrail. Nenhum plano servia realmente para a minha programação nada convencional de viagem. Dividir a viagem entre avião e trem foi uma boa ideia quando se pensa em economizar tempo; mas um problema quando isso te impede de ter uma liberdade para escolher os dias de chegada e partida de cada cidade. Tudo bem que existe um roteiro, mas as viagens de avião exigem que você esteja naquela exata hora, naquela exata cidade. Enfim, por dois motivos estou desistindo da viagem para Krakóvia. O primeiro motivo é por querer garantir a liberdade de sair de Paris e ir com calma pra Berlim. O segundo é porque a Krakóvia iria tirar nosso tempo nas Dutch Lands.
O problema da viagem: deixar a Krakóvia e os campos de Auschwitz de Lado! 

Ainda no Porto - dezembro 2011
Essas viagens me colocam diante do meu principal desafio pessoal: fazer escolhas.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Diários pessoais


London - Outono 2011


Solstício de Inverno. Já se foi o strip tease da natureza ( sic Ana Luiza). Todo as inqueatações de outono se foram também. Um mal estar do corpo, um querer se encaixar no tempo. Uma excitação de que se deve continuar por onde está indo e uma dúvida de que se deve voltar.  Tudo passa quando é inverno. Vem dezembro com todo seu drama e também com sua clarividência. Coloca nas nossas mãos os espectros do que foi, do que não foi, do que não mais vai poder ser. Leva embora paixões passadas; deixa elas se perderem, se esquecerem no tempo. Lembranças outras que ficam, laços outros que se firmam, se reafirmam e pedem uma volta. Viajo porque preciso, volto porque te amo; não há mais "minha" paixão, mas um objeto utópico de Eduardo Galeano, que me faz voltar, amar nem mesmo o país, mas algo que se ama antes mesmo de saber o que é. Viajo, viajo porque preciso. Meus diários pessoais são sobre isso. Viajo porque preciso, não porque te amo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Boa Vista



Tapava ela seus olhos com negativos antigos e desgastados pelo tempo. Vestido de seda na ponta dos dedos, corria feito louca desvairada à beira daquela estrada sem fim. Terra nas mãos, apertava e os grãos iam escorrendo pelos dedos manchados. Cravava nas unhas gravetos, terra e barro. Mato que perdia de vista. Terra do vô. Brasão português e sangue azul que manchava as paredes e os portões de madeira da casa, daquela Boa Vista.Tudo que tinha ficado perdido no tempo. Nascia sempre de memórias e futuro à distância. Vestida de seda até a ponta dos dedos, os mesmos manchados sempre de terra.

Meio tarde já, dia morrendo, ela saia pra enterrar o passarinho que tinha bicado a janela da sala. Ia enterrar ele sozinha, fazer uma cruz sozinha, de gravetos enlaçados por um caule qualquer. Com o coração apertado, sepultava o frágil bichinho. Escolhia o jardim. Muitos passarinhos estão ali embaixo dos espinhos. (era criança ainda para entender porque num jardim não existiam flores e somente espinhos, mas enterrou mesmo assim). Nem era tarde, e era óbvio pra entender que a solidão dos homens e ausência das mulheres não fazia nascer, e ao menos crescer flores. A vó tinha abandonado a fazenda. E ela nunca tinha entendido o  porquê. Nem ninguém tinha. Desde então, os armários eram trancados, os jardins cheios de espinhos e os vidros arruinados pelos reflexos dos pássaros. Que bicavam, quebravam o vidro e depois morriam. 

Mais tarde ainda, a mãe saia da casa desgastada pelo tempo e arruinada pela falta de vida, para fincar os pés na terra do Jardim de espinhos. E vestida de seda até a ponta dos dedos, ela aprendeu com a mãe a cravar lá os pés também. Aprendeu a caminhar até o final da estrada, e depois voltar. Sem tempo pra voltar, apenas de ir. Ele, o tempo, parecia ir seguindo elas por detrás da brisa empoeirada. Não ditava, apenas cumpria a sua função natural do passar. Deram - se todos eles as mãos, num acordo justo e sincrônico; e ele então pode lhes mostrar a natureza justa das coisas.

Tinham gatinhos do mato no muro do estábulo, passava curiosa no meio de todas as vacas enforcadas por aquela coisa que ela ainda não sabia qual era o nome. Tentava um carinho, mas não, nunca conseguiu se aproximar deveras das vacas. Mas os bezerros ela agarrava com toda a força. E os gatinhos, ah, esses fugiam. Mas a paixão eram os cavalos, era claro que na solidão sem fim daquela terra ditada pela melancolia, os homens se sentiam menos tristes quando lidavam com eles. Eram esses a razão para toda aquela estrutura que precisava do afinco da alma. E do corpo exausto de todos os dias.

Deitava em sonhos nas folhas secas do chão úmido. Cheirava o bosque o acre e húmus. Passava o tempo, inconsumível, prosaico pelas palmas das mãos, que amassavam as flores miúdas e as jaboticabas caídas. E foi assim o prazer mais pueril que ela encontrava nos tempos de veraneio. As raízes já estavam fincadas na suas pálpebras e nos seus pés. O mesmo cheiro da terra, da mesma que cravava os dedos, faria ela lembrar, depois de 15 anos, o gosto verdadeiro da sua infância.

Descobriu então, o que era simplicidade.











quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Quadrilha

É o seguinte. Já reparou naquele poema do Carlos Drummond de Andrade, Quadrilha?

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história



O cara é um gênio.

terça-feira, 27 de setembro de 2011





walls Soho - New York









Reprodução: Don't touch my moleskine.

domingo, 25 de setembro de 2011

Como descomplicar: histórias de quando eu me assumi ser.... simples.

Então, foi ontem. Me assumi indiscutivelmente ( não há mais filosofia de buteco que me contrarie) ser uma pessoa simples. Eu decidi por um motivo óbvio, sou cartesiana até o último fio de cabelo para tomar decisões levianas.


ps 1: Sendo assim, achei necessário estabelecer um prazo de 24h para que meu cérebro assimilasse a ideia de que a partir do próximo dia, eu iria ter que aparentemente, mudar... É, mudar! Ninguém irá perceber a tal mudança (esquisita) porque o caminho da simplicidade é solitário. A nova mudança na vida veio como toda mudança que se preze, arrastando tudo o que vê ( e não vê) pela frente. Como sair de casa para comprar sorvete e voltar apaixonada. Tudo mudou, e você nem lembra de como era a vida há uns instantes atrás.



Dada a mudança inventiva, procurei alguns frases sobre simplicidade: ( não vou citar autores, isso aqui não é jornalismo)


  • “A simplicidade consiste em subtrair o óbvio e acrescentar o significativo.”

  • " Simplicidade é o que há de mais sofisticado".
  • " Vai diminuindo a cidade, vai aumentando a simpatia, quanto menor a casinha ai ai, mais sincero o bom dia." Café tá quente no forno, barriga não tá vazia, quanto mais simplicidade ai ai, melhor o nascer do dia."
  • "Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho."


A lição mais importante veio na leitura de "Mulheres que Correm com os Lobos" de Clarissa Pinkola. Entre uma das histórias arquetípicas da Mulher Selvagem, um pequeno ensinamento arrebatador; Tudo na vida tem uma razão de ser...!


Tive crise de labirintite, porque a minha fita cognitiva rebobinava numa velocidade assustadora, e fotografias lomo passavam diante dos meus olhos. Teoria da evolução de Darwin, Teoria sobre a origem do homo sapiens, a história da arte, a arte que imita a vida. Os símbolos, e sua força através do tempo. As incontáveis formas de enxergar a história e interpretar os acontecimentos. As travessias que a gente vivencia, os rituais, que fazem com que os seres humanos coloquem a vida em perspectiva, que reunem as sombras e espectros da vida das pessoas, como que os organizam e os fazem repousar. As Mulheres que são alvos de alterações brutais de hormônio durante a vida inteira, e ainda enfrentam o senso comum de serem as sensíveis, passionais, descontroladas, complicadas, contraditórias, raivosas, esquisitas, confusas, exageradas, enfim, um indivíduo não confiável...! Se não fossem os estigmas causados pelas adjetivações da mulher, poderíamos ser dionisíacas sem culpa...


Eu estava falando sobre simplicidade...


ps2 Seria um ótimo momento de reflexão a TPM se não nos sentissem tão culpadas por todos os nossos pecados cristãos. Se é, apenas um momento, que poderíamos trabalhar ainda com mais tesão, no despedaçar dos nossos desejos mais profundos, das nossas buscas imemoriais, das inquietações que precisam ganhar voz, que precisam gritar, pulsar, viver. Tudo isso sem precisar transpor a barreira das opressões que sofremos na sociedade carente de vontade por verdadeiras transformações sociais, que sejam regidas pela verdadeira independência do indivíduo, excluso de qualquer preconceito e estigma.


Então, a simplicidade...


Tudo tem uma razão de ser. É um fato consumado a percepção de que só vamos descobrindo as várias razões do ser, quando envelhecermos e adquirirmos maturidade. Descobri funções de objetos, nomes de músicas, compreendi poesias, decorei nomes de cidades, me adentrei em novas culturas, suportei saudade, perdi um grande amor e passei a entender o ciclo vida - morte - vida. Descobri sufoco, esquizofrenia... e aprendi a viver nos extremos, viver de exageros, hoje estou eu, discípula da simplicidade. Em busca do pensar menos, viver mais. O ruim é encontrar pessoas pelo caminho que pensam demais, demais demais, e não deixam o barquinho fluir. Mas enfim, o fato é que a minha declaração de amor à simplicidade vem da vontade de realmente ser verdadeira até às vísceras com meus despropósitos existenciais.


Definitvamente, a simplicidade...


Noutras palavras, é miserável a busca pelo simples! Você precisa chegar até o último degrau para entender que a felicidade estava lá nos primeiros. Fico dando voltas e voltas. E simplicidade é tão complexa e tão fina como uma taça de vinho do Porto, safra 1850. Desconfio que o resto é bobagem.

É, eu desisto de ser simples. Não é da minha natureza.






















domingo, 4 de setembro de 2011

Ces't fini


Ces't fini! Olhei para todos os olhos amicos (porque se pode olhar o corpo, olhar de lado, "que olhando assim de lado eu, te acho tão bonito", olhar de soslaio, olhar de rabo de olho, olhar como quem não quer nada, ad infinitum); o olhar verdadeiro, olhos nos olhos, é muito, excepcionalmente raro de acontecer. Mas olhei para todos os olhos amicos com a ternura do novamente, querer conhecer. Olhei com os olhos de quem quer furar, quer adentrar o corpo do outro, sê - lo por um instante. Olhei, porque é preciso olhar, quando se está a caminho. Quando se coloca o pé na estrada, outra vez. Sem referências, sem documentos, sem lenços para secar as lágrimas que iriam vicejar o amargo. Sem os lenços, que iriam lhe servir de braços, e esses mesmos, que iriam virar travesseiro. Sem nada, Rien, te vai.

Ces't fini! E mais uma vez, diante estou eu, do abismo. Te vai. E pela primeira vez, eu fui. Sem as verdades de outra vez. De outro momento imemorial. Devo estar no deserto da minha psique, juntando meus ossos, para poder me manter em pé, segura e profunda, outra vez.

Ces't fini! Mergulhar dentro do self é um corte profundo. No primeiro momento, talvez você pense não aguentar todas as máscaras que vê diante de si. Face - a - face, é como se você fosse arrancando elas do rosto, e a medida que uma caísse no chão, a outra aparecia. A cada máscara caída, mais veneziana a outra se revelava. Somos pois, persona, antes de, identificar o próprio ser (não posso esconder a influência de Bergman). É ardente, o mergulho atormentado para os interiores. Mas vale todos os olhares que se vê por outro lado; mas vale o mergulho para deixar morrer, o que precisa morrer, e deixar viver, o que precisa (e merece) viver.

Ces' t fini! E no estado de leitura interiorana, queira ficar só, para deixar cantar o que quer cantar dentro de ti. Aprenda, é melhor, a obedecer os ciclos da vida. Se formos velhinhos um dia (não sei muito bem para quem estou falando, talvez seja só a mim) vamos saber que a guerra longa, e a vida... A vida é curta...

Ces't fini! É atormentador mas é na equivalência, mágico, o caminhar sozinha. Então, "vai caminhante, antes do dia nascer".





domingo, 7 de agosto de 2011

Lembrar.


Não adianta querer navalhar,
eu já tô cheia de querer te arrancar do meu peito sem dó, nem piedade.
De querer te enterrar, e te declarar morto em mim.
Mas você não morre dentro de mim.
E pra que navalhar?
Se me corto toda e nem um êxtase me tem?
De fato, e ato.
Até morrer,
É você,
que eu vou querer.
E no ímpeto eu já nem sei..
E eu já nem quero saber...
Se a ausência,
é morte irreversível do amor.
Eu já nem quero saber...
Ai, essa lembrança.
vazios,
abismos,
flores,
ai, essa lembrança,
que me leva
até onde
eu não posso te ver,
mas te sentir
de novo
outra vez.


terça-feira, 2 de agosto de 2011

Dois lados da Canção

desligo você
nus, deslizamos
pra que te esquecer
se o amor é tanto?
existo em você
por louco engano

http://youtu.be/XZTn-3-tRSk

Poesia de última hora


A vida vale pelo que rasga o coração.
Rasga a melodia,
rasga o acorde,
rasga amor todo dia...

A vida vale pelo que queima a mente.
queima o pensamento
queima a certeza
queima o tormento

A vida vale pelo que desorienta a vida
desorienta a rotina
desorienta a ordem
desorienta a menina...

A menina desorientada,
desorienta a mente,
desorienta o coração,
desorienta a vida.

A vida desorientada muda.

Atormentada,
muda.

Fala.


terça-feira, 26 de julho de 2011

Eu sei, mas não devia.

( ler até o final, para respirar sorrindo depois )












'Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos

e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.

E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.

E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.

E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.

E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.

A tomar café correndo porque está atrasado.

A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.

A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.

A sair do trabalho porque já é noite.

A cochilar no ônibus porque está cansado.

A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.

E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.

E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,

aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.

A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.

A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.

A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.

E a ganhar menos do que precisa.

E a fazer filas para pagar.

E a pagar mais do que as coisas valem.

E a saber que cada vez pagará mais.

E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.

A abrir as revistas e a ver anúncios.

A ligar a televisão e a ver comerciais.

A ir ao cinema e engolir publicidade.

A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição.

As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.

A luz artificial de ligeiro tremor.

Ao choque que os olhos levam na luz natural.

Às bactérias da água potável.

A contaminação da água do mar.

A lenta morte dos rios.

Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,

a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,

um ressentimento ali, uma revolta acolá.

Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.

Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.

Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.

E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo

e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se

da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,

de tanto acostumar, se perde de si mesma.'



Marina Colasanti


Dias de busca pela palavra macia, frouxa, gostosa. Dias de deixar a janela escancarada e se escancarar! Dias de sorriso, de sonhos imperfeitos. Dias de arte, espelhos, amigos e olhar.

terça-feira, 19 de julho de 2011

#Junk

Hoje acordei como há 3 meses atrás, no dia 21 de abril, com um aperto imensúravel no peito. Naquele dia, eu fui até a sala, eu ia até o quarto, eu dizia, tá doendo, tá doendo e eu não sei o porquê... E à noite, veio a notícia, veio a tragédia, que não ia doer tanto, se fosse comigo. Hoje, depois de uma noite muito difícil, sozinha em casa, depois de gritar de dor, e pedir, por favor, ajuda para ninguém, o coração deu de apertar de novo. Eu acordei e peguei o violão, tentei umas notas, e não achei saída. Hoje eu não achei saída. E entrei no facebook, que às vezes pode salvar almas perdidas, e tinha uma foto das pseudonas postada pela @CamilaDias. Um recado da @AnaBeatriz que vacilou no meu coração, emaranhado de saudades casuais e eternas. E agora, umas palavras que chegaram e perfuraram o peito. Pelo que parece, os corações e as lembranças hoje deram de não sustentar a dor. Ao mesmo tempo que essa palavras chegaram, eu me senti mais fraca ainda, porque eram de mãe, Mãe, MÃE. E as palavras de mãe, ultrapassam a racionalidade da psique humana. E o coração dela está apertado por espinhos, mais espinhos do que está o meu.

Junk! Paul McCterney! Onde você estava em 1971 quando tirou essa harmonia? Elis, me diz, que geração foi a sua que acreditava que outros outubros virão, se você mesma morreu de Overdose? Os outros outubros não vão vir, é isso? John Lennon morreu com uma bala cravada no peito. Diz - me alguém se é melhor perfurar o peito ou perder a consciência aos poucos... Diz - me a hora certa do trem partir.

As palavras e o silêncio se equilibram latentes dentro do nosso ètré. Numa hora dessas, nem a palavra pode salvar, nem os amigos, nem a mãe, nem você pode se salvar. Você está à mercé dos movimentos da vida que embrulham tudo. E ela vai te embrulhar... E você nunca vai estar preparado.

domingo, 17 de julho de 2011

#Home


"Vou trancar - me para nunca mais abrir, pro sabor dos nossos sonhos não fugir".


Voltei do #SuperBock grata pela juventude européia que me fez sentir parte de uma geração, que eu, nascida em 1990, ainda não conseguia sentir. Juventude translúcida, que me trouxe a sensação (ou eu a busquei) de pertencimento, sem espaços vazados. E fomos movidos por além das "Impressions of earth" do The Strokes, na nossa "Last Night" no maior Festival de Verão de Portugal. Fomos movidos pelos Macacos Árticos (Arctic Monkeys na boa tradução), pelos cartoons do Portishead ( e fiquei cantarolando o resto da viagem "give me a reason to love you, give a reason to be" ) pela orquestra excêntrica do Beirut e o Rock 'roll de boas referências do Slash! Arcade Fire com Reginé Chassagne mostrou porque é aplaudido pela crítica e comemora uma coleção de prêmios recentes pelos Álbuns Funeral e New Bible. A apresentação no #SuperBock renderam à banda canadense mais uma marca na história dos seus melhores shows já realizados. Quanto colorido, quanta vontade de fazer música e experimentar! Sinto isso da minha geração, quanta vontade de.... experimentar. Respiro aliviada por não precisar, nunca mais, cantar The Who, a estar na altura de uma crise existencial em situação de risco. ( I'm talking about my generation)


Title: The song is Virgínia, Mutantes.

Go away and close the door, please.

terça-feira, 5 de julho de 2011

#Pitangas



As ruínas feitas e (re) feitas de terra vermelha, o ar úmido que lembrava a pele seca dos árabes forasteiros, aquela solidão feita de tapetes, lenços coloridos, prata e fósseis que me fizeram desmanchar em prosa. Um gato marroquino para contrastar a luz forte, clara e oblíqua que transcendia no meu coração torto, esvaziado pelos amores que se perderam no tempo.



segunda-feira, 4 de julho de 2011


Nós nos equilibramos, por isso passamos do silêncio para as palavras.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

World is my name, is my size.




Abandonar tudo. Conhecer praias. Amores novos. ♥






Imagem do Indexed

terça-feira, 28 de junho de 2011

#Solidão

" Solidão, que poeira leve..."

























Junk - Paul McCartney

#AlmadeFlor



quarta-feira, 22 de junho de 2011

Persona – faces de Bergman



Por Ana Carolina Meirelles

Intro (dução)


Suécia, 1966. Ingmar Bergman lança Persona. Película reconhecida pela crítica cinematográfica como obra- prima do diretor sueco. O filme surpreende, sobretudo, pelo seu caráter enigmático. Não podemos afirmar com uma certeza absoluta sobre a sua principal abordagem, sobre seu âmago. Para sentir, mais do que simplesmente assistir a Persona, é necessária à abdicação da espera por uma significação imediata revelada.

As imagens falam de alma pra alma, e fogem do campo intelectual. Talvez para sentir a película, você precise voltar a ela duas ou três vezes. Susan Sontag, em análise feita sobre o longa, nos diz que para compreender Persona, o espectador deve ultrapassar o ponto de vista psicológico, já que o filme assume uma posição além da psicologia – assim como, num sentido análogo, além do erotismo. (Sontag, 1987, p. 127-8).

A posição do espectador além da psicologia a que se refere Sontag se faz necessária na medida em que nos deparamos desde a abertura do filme até aos créditos finais, com sequências de imagens enigmáticas, que nos despertam os sentidos mais curiosos e sensações variadas diante do desconhecido tão escandaloso. Persona não é um filme linear, e eu diria que também não é pensado de maneira elíptica; de modo que queira retornar a ideia expressa nos seus primeiros instantes.

O filme é uma construção de sentido para além do intelecto, e por isso Persona foi mais longe do que muitas outras produções já vistas na história do cinema. Ele representa o cinema cru, a metalinguagem do cinema, aspectos que nos fazem tecer as pontes que ligam a realidade à ficção e a barreira que nos separa do Outro. E ainda, como SER pelos olhos do Outro.

O desconhecido escandaloso de Bergman é um convite à análise profunda da psique humana, do simbolismo, dos papéis desempenhados por nossas diversas “personas” no nosso íntimo e no nosso convívio social. E neste filme, rodado por 82 minutos e a última película em preto e branco filmada pelo diretor, podemos ter o deleite de apreciar a história contada pelas faces e pensamentos transfigurados nas personas de Alma (Bibi Andersson) e Elisabeth Vogler (Liv Ullmann).


História Contada ( Sinopse)




Após a encenação da peça grega Electra, a atriz Elizabeth Vogler tem uma alteração no seu comportamento habitual. Elisabeth deixa de falar durante a representação teatral. Assim, é internada em uma clínica psiquiátrica pela demonstração de apatia ao seu entorno, as pessoas, ao filho e ao próprio teatro.

A médica responsável por Elizabeth encarrega à enfermeira Alma de seu tratamento. A atriz não está doente, apenas opta pelo silêncio. Percebendo que o hospital não seria o melhor lugar para a recuperação da senhora Vogler, a médica aconselha que Alma e Elizabeth passem uma temporada em sua casa de praia, em uma ilha isolada. A partir daí, as duas mulheres desenvolvem uma intimidade crescente.

O processo inverte-se, Elizabeth parece estar aos cuidados de Alma, e esta constante troca de identidades, desencadeia o que, talvez, seja o cerne da abordagem de Persona: até que ponto somos nós e até que ponto somos, adentramos e ou interferimos no outro? “Posso ser eu mesma duas pessoas, ao mesmo tempo?” Pergunta Alma a Elizabeth (...)

Mesmo o silêncio de Elizabeth não impossibilitou que as duas mulheres passassem por um processo de identificação e trocas; a relação estava cada dia mais forte até que Alma se sente traída por Elizabeth e os papéis se invertem. Por fim, as duas voltam da ilha e a atriz retoma sua carreira profissional, assim como Alma ao seu trabalho na clínica psiquiátrica.


Pequenas tecelagens



Persona caracteriza-se pelas nuances insinuantes e bem delineadas por Bergman do preto e do branco. A iluminação, o contraste e a textura relacionados à composição perfeita da imagem, nos induzem a pensar sobre a sua veracidade, e até nos questionar sobre o que é a realidade, o que é a ilusão, e como elas estão presentes na linguagem cinematográfica. A ausência de cores e os nuances de cinza na película distanciam às personagens de um espaço de imaginação e fantasia, do colorido do mundo.

A ausência de cores, assim, aproxima- se os da frieza da realidade, do choque com o mundo cru, sem cortes, e assim, em Persona, transfigurados para o cinema. Algumas imagens reais, representadas no filme, como a fotografia do menino judeu de mãos para cima em Varsóvia, assim como a imagem vista por Elizabeth na tv, de um Bonzo vietnamita sendo queimado como uma tocha de fogo choca a personagem da mesma maneira que nos chocam na “nossa” vida real.

Em outras palavras e entre tantos aspectos singulares presentes na película, talvez uma das intenções de Bergman foi nos atentar para o fato de que o cinema é apenas uma linguagem para expressar nossas diversas perspectivas e visões sobre o mundo. No entanto, sem nos esquecer de que àquilo é apenas uma representação, uma ilusão diante dos nossos olhos.

O cinema no cinema de Bergman está imbuído de teatralidade, em Persona isso é bem claro, são diversas às alusões feitas ao universo das representações. O próprio nome “Persona” significa máscara usada pelos atores durante as tragédias clássicas. Portanto, é no campo das representações, da verdade, e ainda vou me arriscar, da agonia como ser humano incrédulo do silêncio de Deus perante sua criação, que Bergman constrói as personagens Alma e Elizabeth. Compartilho da opinião de Sontag, quando nos diz que podemos entender a relação das duas personagens como o sujeito que é corrompido (Elizabeth) e a alma que é ingênua (Alma) e é colocada diante do ser corrompido.

Elizabeth é uma atriz que está em busca da verdade, e por desempenhar seus vários papéis e não se encontrar em nenhum deles quer calar a persona que é apresentada no contato com o outro e dar voz a persona que pode ser encontrada na sua solidão. Por isso ela resolve se calar e o silêncio é o seu único meio de cessar os ruídos que a impedem de voltar à Elizabeth in natura.

Quando se aproxima de Alma, uma personagem que não conseguiu dar voz aos seus outros “eus”, Elizabeth sente à vontade para escutar e em paz por não precisar desempenhar nenhum papel, e é neste momento, que mesmo cessando os seus outros “eus”, ela não consegue deixar de ser. Então, a partir do momento da escuta por Elizabeth, e da fala por Alma, há uma forte relação entre às duas e uma fusão de identidades que parece ser inevitável e inerente à vontade da alma e da consciência; e assim elas se transformam em apenas uma persona. No filme, retratado pela junção das duas faces.

Bergman talvez questione em Persona, para além de outros focos, os nossos vários papéis desempenhados durante a vida como condição intrínseca à existência. Talvez o fardo mais pesado seja carregar esses vários papéis, desempenha –los e suporta – los. Somos, pois, indivíduos fartos de muitos pesos, e sem o direito à decisão de escolha. Podemos escolher os papéis, mas não podemos escolher abster de tê-los.


Outras tecelagens

As imagens aparentemente desconexas no começo e no final da película, aranha caranguejeira, prego sendo martelado na mão de uma pessoa, menino com óculos grandes, idosos com olhos fechados (eles estavam mortos?), esqueleto, sequência de imagens em um projetor... etc, são chamadas por Bergman de poema visual. Alguns críticos defendem que a ideia partiu para representar o nascimento da situação na qual nasceu o filme. Bergman estava hospitalizado quando começou a fazer o roteiro de Persona para se distrair. Na altura, ele ainda era diretor da Dramaten, uma companhia de teatro. No entanto, para, além disso, vejo nas imagens um convite às nossas inquietações latentes, ao incitamento do nosso inconsciente, para que ele venha “à tona”, antes do começo, propriamente, da história da trama. Na passagem veloz das imagens sequenciais, em um primeiro momento talvez não consigamos estabelecer um fio condutor com as outras cenas que vem após. De qualquer maneira, o nosso sistema cognitivo guarda essas imagens, e depois nos provoca sensações mais “verdadeiras” à percepção do resto do filme. Sendo assim, acredito que Bergman pensou nas imagens para nos preparar para enfrentar o duelo de personalidades, que muitas vezes foge do nosso consciente e está enterrado, guardado ou adormecido nas profundezas do nosso inconsciente. Neste ponto, é possível tecer a relação entre Persona e a psicologia de Jung. O objetivo é apenas assinalar esta possível ligação entre o filme e a “persona” do psicólogo. Nesse sentido, Jung trata das sombras, que são nossas memórias, experiências passadas, tendências e desejos, que muitas vezes não emergem no nosso consciente. Assim, Jung também adentra ao universo potente do simbólico, que é evidente na película enigmática de Bergman e por isso, um tanto quanto fascinante.

Persona tem muitos mistérios. Sabemos que o texto do filme não é uma improvisação, embora às vezes nos tencione a crer que sim. Bergman nos diz que foi rigorosamente concebido. São os detalhes em Persona que o deixa ainda mais indecifrável e suscetível a infindas teorizações. Pois continuo a teorizar em outra altura, pois cá já está bom!

sábado, 11 de junho de 2011

No meu tempo, o vento.

Na minha viagem interior, pois assim a irei chamar para os restos dos meus dias, ao deserto, senti a sensação de estar indo chegar ao último lugar existente no planeta Terra. Emergia ali, naquelas dunas claras e tácitas, para o final lugar do mundo. E ainda assim, diante do desconhecido tão deserto, essa saga era uma escolha, era uma fuga para longe de mim. Escolhi fugir, para estancar o que tem se mostrado intrínseco ao meu ego: a minha dor instintiva. "Mulheres que correm com os lobos." Nunca abandonei minha mulher selvagem. E por razões que cabem em um livro de histórias antigas, não me ouso escrevê - las aqui. Mas sei, que por não ter a abandonado, isso se deve à minha mãe, à minha avó e à todas mulheres que são minhas ascendentes. Não estou sozinha, não lia sobre a Wicca aos 11 anos meramente por curiosidade, tenho pois, um gosto de enunciar, que a mulher em mim não deixou me perder da minha mulher selvagem.

Quando toda aquela areia entrava no meu corpo, nos meus olhos, não houve incômodo que fosse. Depois de respeitar o vento, que era natural das noites desérticas, adormeci no meu sono, inconsciente de que procurava paz em mim mesma. E ela tão ausente, perdida não sei exatamente em que tempo da minha breve vida, retornaria a mim quando eu a abri-se as portas. Mas há momentos que não temos consciência, e as portas permanecem fechadas. Então adormeci e aceitei, que o vento iria continuar até às 5h da manhã, que a tempestade de areia não iria passar, porque era natural também. Eu tinha um cobertor felpudo, um colchão macio e uma tenda de tapetes, eu sem pensar em tudo isso, dormi, em paz numa imensidão de nada.

II

Busque tocar o sol que te acena todos os dias.

III

Continua no próximo post pela excesso do que é inefável e que não deixa transbordar - me por inteira.



quinta-feira, 9 de junho de 2011

Onde desemboca a saudade

Fujo de mim e da minha dor, pelos olhos da minha mãe. Eu falo e ela traduz.

sábado, 21 de maio de 2011

"Hei- de lembrar, enquanto existir"

Menina Carolina,


Encaracolada feito mola de colchão segue ela entortando caminhos programados. Correndo aos gritos de dor e certa do lugar algum. Contando pedras e arrancando mágoas. Move-se aos poucos diante do outro e ressurgi de areias míticas diante de si mesma.

Sabe ela o que é o amor? Quer ser amar.


Força, menina Carolina, os pássaros sempre voltam no verão. Siga. Moldando suas asas e sinta o vento da mudança amassando sua mesma pele perdida em corpos inexistentes. Mova. Exista. Viva. Viva só pelo simples instante de agora. Desista de relutar contra o que não tem nome. Nada de explicação. Ludibrie a razão. Vá. Entorpecendo-se de sentir. Sinta. Sinta-se à vontade.


Carolina, menina! Menina Carolina.

Olhe mais ao lado.

Eu sempre estarei aqui.

Débora Ribeiro

Porto, 21 de maio de 2011.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Canto fúnebre da insubmissão



Strawberry fields -


“Eu não concordo com a descida dos corações amantes à terra dura. Assim é, será e foi desde tempos imemoriais: eles seguem pelas trevas, os sábios e os belos. Coroados de lilases e de louros, eles partem; mas eu não me conformo. Amantes e pensadores, contigo, dentro da terra, transformados na poeira morna e cega. Um fragmento do que tu sentias, daquilo que tu sabias, uma fórmula, uma frase apenas restou - mas o melhor está perdido. As respostas rápidas e vivas, o olhar honesto, o riso, o amor - estes partiram. Partiram para alimentar as rosas. Os botões serão meigos, elegantes e perfumados. Eu sei. Mas eu não aprovo. Mais preciosa era a luz em teus olhos que todas as rosas do mundo.

Fundo, fundo, fundo na escuridão da cova, docemente, os belos, os ternos, os bons, calmamente eles descem, os inteligentes, os espirituais, os bravos. Eu sei. Mas não estou de acordo. E eu não me conformo”.

(St Vincent Millay, traduzido por Roberto Freire).




terça-feira, 10 de maio de 2011

E assim eu alcanço o Céu



"Mis propios dioses ya no están"


Descobri que posso alcançar o céu e diminuir a distância que separa o tangível do invisível.


"Sentir, sentir, sentir, y se el sentido se ha ido, no queda más que sentir, sentir, sentir".



Roberto Jacoby - A inspiração vem do Reina Sofia, Madrid, Espanha.

Evolução do Feminismo

Games Históricos: Evolução do Feminismo: "Simulador sobre a evolução do feminismo mundial e brasileiro."

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Fala

Que tá doendo de um jeito nunca sentido e experimentado antes. Que é a dor mais cortante que pode existir, que eu me sinto desesperadamente sendo dilacerada por dentro. Que por mais que eu resista, meus pensamentos não me deixam em paz. Que todos os dias, acho que não vou aguentar. Que preciso de ajuda, mas sei que essa é uma batalha individual. Eu não estou de palavras, nem de gestos. Eu só queria conseguir respirar um pouco sem ter que segurar o coração, pra ele não entrar em descompasso ainda mais. "Viver será se machucar? Ecoar no acorde final"?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Reach for the sky





Eu posso ser compositora, posso ser dançarina de salsa, posso escrever um livro, desperdiçar horas em um sebo. Posso ler todos os quadrinhos, revistas antigas, folhear todas as páginas atrás de alguma notícia sobre maio de 68. Posso assistir De volta pro Futuro, I am sam, Senhor dos Anéis. Posso comprar todos os dvd's do Iron Maiden e do Acdc. Posso colecionar todas as revistas e curiosidades de Asterix e Obelix; e sempre, como antes, eu vou pensar que poderia presentear o João com todos os quadrinhos, todas as músicas, todas as coisas.

Lembrar das tardes de domingo em Cruzília, antes do almoço, antes dele ir pra Belo Horizonte. A gente no sotão, e ele empolgado com as histórias do Asterix. Já tinha todas as revistas. ( Meu presente do Porto não seria tão inusitado). O Anthology dos Beatles, meus dois coelhos, Karenina e Nina. Depois o ir, o voltar, e me ver. E foi assim por 5 anos. Todas as noites, todas as manhãs, todas as tardes. Todos os meus escritos, as músicas, toda a descoberta.

Amor, dar e receber.

Eu posso dançar um tango, ver meninos de cabelos cacheados castanhos na rua, e pensar, queria, no pretérito perfeito, imensamente, ter gerado um Enzo, do João. E quando eu tivesse com 40 anos, ele com quase 50, a gente admirasse de longe, montados em dois cavalos mangalargas, no alto da Boa Vista ou do Jaboticabal, as terras e a boa aventurança de ter nascido e ser criado no sul de Minas. Numa cidade pequena mas que nos fez encontrar nessa mesma vida, um amor, dois corpos.

O que foi feito da vida? O que foi feito do amor? Eu já gostava da cor castanho pinhão do cavalo Junqueira Torpedo, quando descobri que tinha talento para criar romances, bucólicos, que durariam uma vida, que durariam a minha vida inteira, e ininterrupta a minha vida. Mas eu sabia que eu precisava voar.

Outros outubros virão, outras manhãs plenas de sol e luz. Na Melancia, terra do Vô Geraldo, de manhã, na chevrolet azul, também do vô, meu pai que não sabia direito o que fazia naquela família, de gente criada na terra firme e que gostava de um bom cavalo marchador, me mostrou um passarinho, um irapuru, que era miudinho mas que voava com uma beleza fugaz e era mais leve que uma pena... Eu, criança, queria brincar de armar um arapuca pro passarinho, e depois soltar ele, deixar ele cantar livre.

Ah, aquele passarinho! Depois ele foi o João, que voou, voou... E eu fiquei sem entender, eu fiquei inconsolável, eu fiquei sem saber porque ele podia voar e eu não... Quando eu seria passarinho leve e miúdo, que palpitava o coração mais que podia, que alcançava o céu? (...)

Eu fiquei sem entender. Eu queria era ir também. Ver outros horizontes em outras terras desconhecidas, ser eterna, alma nova e renovada.

Eu posso ser todos os eus possíveis, e eu sempre vou lembrar desse amor, desse delírio, dessa coisa que me enlouquece, que me faz padecer de momento à momento, que faz meu coração gelar, gelar. Até onde eu aguento esse gelo que me corta toda por dentro? Que me dilacera inteira por dentro?

Seria até parar e eu não sentir mais nenhuma palpitação, não sentir mais nenhuma veia, e meu sangue parando nas veias, cada veia se assossegando, quietas, serenas... Cessa esse delírio de eus possíveis, quero eu mesma, sem mudar, sem recomeçar. Quero eu e ele, porque não existe Carol sem João, e João sem Carol.

Quando eu gostava da cor do Junqueira Torpedo, eu nem sabia quem eu era, quem eu me tornaria. Me tornaria eu com 21 anos? Me tornaria inconsolável, despedaçada, num abril abafado em Portugal? Onde estou? Quem são essas pessoas? Quem são os meus? Cadê os meus? Vida, que seja doce! Que é amarga? Mas eu não aceito. Todos retornam às cinzas, mas eu não aceito.

Maio de 68? Revoluções pessoais? Ou menina ressabiada e assustada do Sul de Minas? Aperto - me contra mim mesma, como um caramujo volta à sua casa... Aperto, aperto, e sinto nas vísceras uma dor sufocante, uma falta de ar, esse medo, dessas outras manhãs... Jamais esquecerei. Jamais, enquanto eu estiver respirando, esquecerei desse amor terno, sensível, que transborda em mim...

Rasgo -me em infinitos pedaços sem poder imaginar estar ao lado dele, nós dois, velhos, olhando um horizonte distante, de mãos dadas, atadas pelo destino que era tão certo, lembrando de onde somos, quem somos, amando sermos nós, juntos, por toda a vida, toda à distância, todo o tempo, um do lado do outro, para sempre.


Que eu o encontre.


Ps: Obrigada a todos os meus amigos pelo apoio, colo, palavras, afeto, amor. A amizade de vocês foi o meu maior conforto. Obrigada Mãe, Pai, Tia Solange, Railson, Jucyra, Marcelo.

Joãozin, reach for the sky!



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