domingo, 3 de junho de 2012

Depois do dia


                                                                                                          Por Laura Ralola



Bom dia, de dia bom. Lambida de cachorro no rosto. Sorte ter a colcha quadriculada cheia de cores e sono. Como um escudo. Sai cachorro! Músicas entram no sonho. Músicas boas também. Dormi na sala, corro pro quarto. Algumas horas a mais de sono. Outra cama, dois travesseiros grandes. Um beijo bom de bom dia. Sonhos de novo.

Bom dia, de boa tarde. Acordei. Papo vai papo vem, os raios do sol entram pela janela junto com a brisa fresca e dá pra ver um pedacinho do céu azul. Sem nuvens – aparentemente. Cama boa, dois travesseiros grandes, quentinho. Companhia boa. Papo bom. Risadas, abraços, corpo com corpo, pé com pé, quentinhos. Músicas boas. O estomago manda levantar. Dói de fome. O céu está realmente sem nuvens.

Comida boa. Galinhada pra mim, omelete pra ela. Suco invés de refrigerante. Laranja e Limão, respectivamente. Sem açúcar, com açúcar. Café sem cigarro. Ruim a falta de cigarro na hora do café de depois do almoço. Sem dinheiro no bolso, fila do banco enorme. Quinto dia útil do mês. Preguiça. Uma amiga na fila. Dinheiro emprestado. Cigarro sem café.

Dia bom, sem nuvens no céu, brisa fresca. Andar sem sentir calor. Saber que o frio vem mesmo à noite. De dia, só na sombra. Ela quer um edredom para acompanhar os dois travesseiros grandes. Edredom de onça. A cara dela. ‘Por que não leva esse?’ pergunto. Ela ri, diz que não quer um edredom de onça.

Moça simpática que atende na loja. Sorri com a boca e com os olhos. Anuncia um edredom na promoção. Não é que é o de onça? Abusivamente macio e a promoção vale a pena. Vamos pensar e depois voltamos. Mais lojas. Lojas de sapatos, calcinhas. Às vezes espero na porta, entre um trago e outro ela volta pra rua. Andamos mais.

Nenhuma loja desbloqueia celular nessa cidade, não é possível. Depois de três tentativas conseguimos uma. Não aceita cartão, enfrentar a fila do banco é, agora, inevitável. Banco cheio, sede de coca. Ela fica na fila, eu vou à padaria. Coca gelada, dentro do banco, sem cigarro. Celular funcionando. Nenhum outro edredom tão macio e tão barato. Será mesmo o de onça.

Sacola enorme, ainda bem que é leve. Ladeira íngreme. Difícil andar nas pedras. Chave na porta, latido dos cachorros. Enfim em casa. Quarto fechado, enfumaçado, papo noiado. Risada, visitas, incenso. Hora do café. Café com cigarro, depois um pão de queijo. Ela se despede. Pega o edredom e, de longe, dá tchau. Bate a porta. Eu sento para escrever pensando que queria dormir com o edredom de onça. Terminei, vou dormir. Boa noite para um dia bom. Sim, o dia foi bom.

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