sexta-feira, 25 de maio de 2012

Mas é como se várias agulhas estivem fincadas no seu peito

Música: Golden Slumbers, Beatles.

Não queira sofrer. Pois, não queira amar um dia. Há um tempo, tentaram me ensinar o que era o amor; um desconhecido, um homem que chamavam de mago... Quando se tem 20 anos, se ama adolescente, se quer paixão, se entrega. Ela me disse, ama como se fosse uma adolescente, faz jogos, faz tipos. Voltei para casa. Era Agosto. Uma neblina na estrada, aqueles abismos, vales longos que separam a linha de trem das montanhas do Pico do Itacolomy. Lembro o que senti. Mal conseguia abrir os olhos, uma apatia à vida. Queria que o ônibus caísse, paixão...  Fiquei dois dias trancada no quarto. Isso só acontece quando tenho decepções que realmente são decepções de verdade para mim. Porque sou forte, dizem tanto que comecei a acreditar. Aos 13, ficaria trancada ouvindo Janis Joplin num disco de Vinil, quando sozinha em casa.  Mas já aos 20, só chorei e escrevi. 

Lembrei desse dia porque tentaram me ensinar o que era amar e porque eu quis muito que o ônibus caísse no abismo. Lembrei desse dia, porque tenho ainda mágoas profundas da audácia do mago que invadiu meu corpo inumano e quase desmanchou as minhas verdades absolutas. Amei. Queiram saber. Amei demais. Não o mago. Outro. Ainda amo, mesmo que hoje ele se reduza à pó. Hoje tenho sensações parecidas com Agosto. Não vejo sentido em estar aqui, nesse mesmo quarto, ainda reclusa; o coração bate e o corpo dói. O amor. Era mais do que minha verdade absoluta. Queria falar da dor que sinto. Sem só dizer dor. Não sei como você poderia sentir o que eu sinto agora... Mas é como se várias agulhas estivem fincadas no seu peito e fosse impossível de arrancá - las. De tão impossível, o melhor que você pode fazer para amenizar a dor, é esquecer. Triste, não? 

Tem algo que dói no meio do peito. É o coração, por que? Por que? Se ele parar, acabou... E as veias cessam, lentamente, uma por uma... E o pulso já não pulsa. E isso é a morte. Não vi. Não sei o que é a morte dele. Sei o que é a memória. Sei o que é a ausência. A morte não. Passei a língua em todos os meus dentes hoje, me peguei pensando que eles vão resistir antes da pele. Pensei nos meus olhos carcomidos, na minha pele pálida, nos cabelos ainda pretos. 

Não queira sofrer. Dói muito amar de verdade. A minha história foi uma tragédia. Ninguém acredita em mim. Mas um dia vão acreditar. Porque vão ver; ou vão perceber que só se ama uma vez na vida. E com a pele ainda lisa, o coração sôfrego, as portas fechadas, é um calvário continuar vivendo. Ainda vejo os olhos dóidos dos que passam às ruas. Presos pelo sistema. Perdem filhos, mães, pais. Perdem os que são vítimas de violência bruta, de injustiça, de descaso da saúde pública no Brasil, dos que são vítimas do infortúnio, assim como eu fui. 

Hoje, queria que as agulhas fincadas, de fato atingissem meu coração, todos temos dias de  fraqueza, de falta de sentido, de pouca compreensão. Todos temos. Todos. 

Sinta as agulhas que penetram as veias abertas. Meticulosas para não deixar o sangue jorrar. Violentas quando furam a pele, certeiras na força que atrita o músculo e cavam fundo. Gostam da profundidade.

É assim quando se está a caminho. Dói. Dói. Dói. Dói. Dói. Dói. E nem espera tenho de que um dia, talvez de longe, essa dor passe. 

Música: Junk



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