quinta-feira, 24 de março de 2011

Vermelho Carmim

Part I


"O desconhecido é maravilhoso", escrevi no meu diário de bordo, na tarde em que acordei em Maastrich. Sentada na Time Square da cidade holandesa, sentia a liberdade (delícia de liberdade) de estar em um país, onde me sentia a flanar. Apenas a flanar. Um lugar que me separa pela Língua. "Minha pátria é minha língua".
Não senti saudades de Portugal, embora nem tenha pensado no Brasil; me sentia portuguesa ali, vinda de Portugal. Então mergulhei no viscoso como quem se atira de ponta nas águas calmas de uma piscina qualquer.
Em Maastrich, descobri, pontualmente, (graças a Deus) que a viagem só teria sentido para mim, se eu me propusesse a sentir, realmente, as pessoas daquele lugar. Queria levar de lembrança, não somente as fotos e os postais, mas a sensação de sair do espaço turístico e ir para além; me esvaziar por entre as ruas tão bem planejadas e envolventes... Ficar invisível e, de repente, entrar dentro de um coffeshop.
Porque isso fez muito, mas muito sentido para mim durante toda a viagem. Liberal, sometimes, sometimes not, a Holanda convence.

E sobre o viajante, me ocorreu a lembrança de uma passagem que vi no perfil do meu querido amigo e caso sério, Fred Morão. Peguei emprestado dele, uma passagem do Claude Lévi Strauss, esse estruturalista que sabia bem de povos, sociedade e alteridade.

“Por que é triste o olhar do verdadeiro viajante? Como ninguém ele sabe que “o mundo começou sem ele e acabará sem ele”. Percebe que todos os mitos, estilos e linguagens são construções de sentido, sempre à beira do vazio. Sente que sua viagem não terá propriamente um retorno, sua exploração ficará sempre inconclusa. No entanto, entre a solidão que reproduz a máquina de uma cultura herdada e a tristeza desse caos caleidoscópico do mundo que se deixa entrever, prefere a segunda condição: a de navegante solitário, fiel apenas à própria narrativa, senhor de suas histórias e paisagens, aquém de todo pensamento e além de toda sociedade.”

A experiência de ficar hospedada de Couch Surfing, nesta viagem, foi também incrível. Conhecer o Rafa me fez pensar nos brasileiros que estão solos pelas terras européias. E pensar que o encontro entre nós é sempre caloroso. Fica da minha estadia em Maastrich o gostinho da massa ao pesto, que aliás, eu já inclui no meu cardápio vega no Porto.


Continuo no próximo post, tem uma festa Erasmus me chamando.


2 comentários:

Débora Ribeiro disse...

"Todos os caminhos me servem.
Em todos serei o ébrio
cabeceando nas esquinas.
Uma rua deserta e o hálito
das pessoas que se escondem,
uma rua deserta e um rafeiro
por companheiro..."
Fernando Namora.

.Lázaro disse...

Melancolia pura esse Levi Strauss.

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